17 de janeiro de 2012

17-01-2012 09:13

 

Soneto

Ao Luís Vaz, recordando o convívio da nossa mocidade.

 

Não pode Amor por mais que as falas mude

exprimir quanto pesa ou quanto mede.

Se acaso a comoção concede

é tão mesquinho o tom que o desilude.

 

Busca no rosto a cor que mais o ajude,

magoado parecer os olhos pede,

pois quando a fala a tudo o mais excede

não pode ser Amor com tal virtude.

 

Também eu das palavras me arredeio,

também sofro do mal sem saber onde

busque a expressão maior do meu anseio.

 

E acaso perde, o Amor que a fala esconde,

em verdade, em beleza, em doce enleio?

Olha bem os meus olhos, e responde.

 

António GEDEÃO,  in Colóquio Letras, n.º55, Maio de 1980