| 
					VOU-ME EMBORA PRA PASÁRGADA 
					  
					Vou-me embora pra PasárgadaLá sou amigo do rei
 Lá tenho a mulher que eu quero
 na cama que escolherei
 Vou-me embora pra Pasárgada
 
 Vou-me embora pra Pasárgada
 Aqui eu não sou feliz
 Lá a existência é uma aventura
 De tal modo inconseqüente
 Que Joana a Louca de Espanha
 Rainha falsa e demente
 Vem a ser contraparente
 Da nora que nunca tive
 
 E como farei ginástica
 Andarei de bicicleta
 Montarei em burro brabo
 Subirei no pau-de-sebo
 Tomarei banhos de mar!
 E quando estiver cansado
 Deito na beira do rio
 Mando chamar a mãe-d'água
 Pra me contar as hitórias
 Que no tempo de eu menino
 Rosa vinha me contar
 Vou-me embora pra Pasárgada
 
 Em Paságarda tem tudo
 É outra civilização
 Tem um processo seguro
 De impedir a concepção
 Tem telefone automático
 Tem alcalóide à vontade
 Tem prostitutas bonitas
 Para gente namorar
 
 E quando eu estiver mais triste
 Mas triste de não ter jeito
 Quando de noite me der
 Vontade de me matar
 - Lá sou amigo do rei -
 Terei a mulher que quero
 na cama que escolherei
 Vou-me embora para Pasárgada.
 
					  
					Manuel da Bandeira
 |