22 de maio de 2012

22-05-2012 11:56

Língua

 

Mpurukuma, Língua, corpo quase,

o que sou de sobrepostas vozes,

Bayete!

E tu, pássaro da alma, Mpipi adejando

sobre o losango tumultuante de cores,

Templo onde me cerco,

não me abandones, cão inflando para o rio

uma escarninha balada que nos enforca.

Esfumou-se a Torre na praia nocturna,

a preposição que olfactava o nervo

e Ele dorme ainda e expulso.

Quando a palavra surge, inteira, das águas

e os espíritos batem a respiração do batuque,

Ele tacteia os nomes nas abóbadas de sangue

e entra pelo silêncio, dobrando-se

em número.

Leva-o nas tuas asas, ó sombra

que as patas de cinza espargiram no vento,

soluço de Leanor

em saínhos sete de capulanas mil,

Ilha mineral, Mpipi hílare no azul

onde me cego.

Que sinais sobre que mar do exílio ou

som de algas lavando-te o rosto, se inscreveram

em ti, mulher larga no Índico,

língua por dentro dos lábios cavando, obscuro,

um reino por achar?

Língua, Mpurukuma quase.

 

Luís Carlos Patraquim